Ética e Etiqueta

04

Set

Um dos conceitos mais básicos do Bridge, é que é um desporto jogado em parceria e para que uma parceria tenha sucesso, espera-se que consiga comunicar eficazmente, que as estratégias gerais estejam combinadas e que a adaptação a situações novas seja fácil para ambos os elementos da parceria. Mas a comunicação não pode ser feita de qualquer maneira, isto é, não se pode falar com o parceiro durante o jogo com o intuito de lhe transmitir quais são as nossas cartas. Por outro lado toda a informação que proporcionamos ao parceiro tem que estar disponível para os adversários também. No fundo combinamos falar em código com o parceiro, mas ao mesmo tempo temos que dar o livro de códigos ao adversário e por vezes ajudá-lo ainda mais a compreender os nossos códigos traduzindo o que o nosso parceiro nos diz.

Este tipo de comportamento que é exigido a todos os bridgistas independentemente do nível dos jogadores e quer se trate do Campeonato do Mundo, de um pequeno torneio de clube ou de uma partida caseira entre amigos só pode ser conseguido se todos forem honestos com os adversários, parceiros e principalmente consigo próprios. Esta é uma das mais importantes características deste desporto e é por isso reconhecido como um “jogo de cavalheiros”, apesar de grande parte dos praticantes serem senhoras.

 

Dos participantes espera-se que se comportem sempre de forma honrada e honrosa. É particularmente interessante notar que os Códigos Internacionais de leis que regulam o Bridge, sejam o de partida livre, o do bridge duplicado (ou de torneio) ou o bridge on-line, não referem nem abordem o assunto da batota. Não lhe é dado suficiente estatuto para que seja incluído em nenhuma dessas importantes publicações. Parte-se sempre do princípio que, na ausência de provas em contrário, todos os concorrentes são honestos e que os resultados que obtém são merecidos e justos. Claro que por vezes ocorrem infracções às leis do jogo, mas estas são sempre encaradas como não sendo propositadas e para essas, os códigos indicam as soluções para que se restabeleça a equidade, ou seja, o resultado mais provável se não tivesse ocorrido qualquer infracção, decidindo em caso de dúvida em favor dos não-infractores.

 

No entanto as leis dedicam um dos seus capítulos a um assunto conhecido como “comportamento próprio” e é neste capítulo que se inclui a forma correcta de comunicação entre parceiros. O procedimento correcto implica uma atitude cortês em todas as alturas, evitar comentários e acções que possam incomodar ou causar embaraço a outros jogadores ou que possam perturbar o prazer proporcionado pelo jogo. Implica também que o comportamento dos jogadores seja sempre uniforme no leilão e durante o carteio. Nessa secção inclui-se ainda uma lista que não é extensiva onde se indicam comportamentos a evitar, como prestar pouca atenção ao jogo, destacar uma carta antes de ser a sua vez de jogar, prolongar desnecessariamente o jogo (por exemplo quando sabe que todas as vazas que faltam serão suas) com o intuito de desconcentrar o adversário. Indicam-se ainda outros comportamentos considerados incorrectos que deverão, mais vezes do que não, conduzir a penalizações por comportamento incorrecto. É, por exemplo, altamente inapropriado indicar o descontentamento com uma voz ou jogada do parceiro através de gestos, comentários ou mesmo de expressões faciais. Um outro exemplo, qualquer jogador é livre de tentar enganar os adversários (e parceiros) através de vozes que dá durante o leilão ou das cartas que joga, mas nunca pela maneira como dá essas vozes ou joga essa mesma carta.

 

É extremamente importante para o bom desenvolvimento de um jogador que desde o início aprenda o comportamento correcto durante o jogo e que o siga. Ninguém gosta de ser apelidado de “jogador de tasca” – um jogador de ética duvidosa. O termo vem dos jogos que se jogavam em algumas tabernas do país onde as conversas e gestos se destinavam a “orientar” o parceiro. Mas a ética deve também ser activa. Se nos apercebemos de uma infracção não propositada cometida pelos nossos parceiros ou adversários devemos chamar o árbitro de modo cortês para que rapidamente se possa resolver o problema e retomar rapidamente a normalidade do jogo. A maior parte dos jogadores não imagina quão grande é o número de problemas que ocorre (e que muitas vezes nem seriam um problema) porque não se chamou logo o árbitro, que afinal só está lá para ajudar a resolvê-los…

 

Um jogador de bridge não quer apenas ganhar a todo o custo. O verdadeiro Jogador de Bridge só quererá ganhar através do exercício das suas capacidades mentais, treino e experiência. E se a sorte ajudar um bocadinho, tanto melhor… Para quem ganhar a todo o custo é o mais importante, sugiro outras actividades, mas, já agora, não lhes chamem desporto…

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